domingo, 1 de junho de 2014

Iroman Brasil 2014 - Race Report

Iroman Brasil 2014 - Race Report

Ficou muito longo, fui escrevendo do jeito que as ideias foram aparecendo. Para saber diretamente da prova, só ir um pouquinho para baixo direto. O resto é "mimimi" para não perder o costume.

O triathlon é um esporte viciante, não tenho dúvida disso, ao mesmo tempo é um esporte cruel para o organismo e para o bolso.

A saga para o Ironman 2014 começou logo após o de 2013. Apesar de todo gasto e algumas decepções, não aguentei e me inscrevi para o próximo ano, a ideia era ter uma prova alvo e aproveitar tudo isso para treinar e consolidar alguns hábitos em minha vida. A guerra para inscrição foi vencida com um cartão internacional emprestado, não consegui pelo boleto. Estava inscrito, agora era conversar com o Coach Rodrigo Tosta e ver o que iria sair para maio de 2014. Pensei em manter o blog atualizado, para que pudesse ter um histórico das sensações, desesperos, etc. E continuar alimentando meu diário de treinos para ter uma base de comparação. Não fiz nada disso. Acho que fui muito relaxado quanto a isso. Nos treinos longos e em outros durante a semana, usava o gps que está com a pulseira arrebentada ou o celular para colocar no strava depois. Mas ao mesmo tempo, fui bem "CDF" com os treinos, pouquíssimos foram perdidos. O legal, ou mais ou menos legal é que minha rotina foi se ajustando a de um atleta, dormir cedo, comer bem, não exagerar em comemorações e festas foram regra, deixei de fazer muitas coisas, não só por causa dos treinos (acho que os treinos foram a melhor desculpa) mas para buscar um caminho mais saudável e tranquilo para mim.

Apesar da experiência do primeiro IM, nunca me senti confiante o bastante para relaxar muito ou perder treinos, apesar de tomar cerveja, comer pizza de vez em quando. Minha alimentação melhorou muito, mesmo assim eu não consegui acertar a quantidade correta dentro das necessidades que eu tinha. No fim do período de treinos quase que isso prejudica.
Desde que comecei a correr sinto um incômodo na coluna lombar que varia de intensidade dependendo da quantidade e intensidade dos treinos. A região dos músculos rombóides, do lado direito também incomodaram (e incomodam) muito. Achava que essas dores poderiam ter relação com o peso, estar pesado poderia prejudicar a estabilização do meu tronco e provocar essas dores. Fui ao médico que confirmou a presença de um desgaste a região das vértebras lombares (esqueci de citar a dor na região dos rombóides), me receitou um remédio e boa. Melhorou um tempo, mas voltou  e fui fazer fisioterapia e buscar melhores informações. Mesmo assim convivi e convivo com essas dores, variando de intensidade dependendo da atividade que faço. Quando estou pedalando na estrada, tem horas que dá vontade de parar, sentar no chão e pegar o primeiro ônibus que passar.

Ah, então, achava que era o peso e comecei a me monitorar mais, resultado foi que perdi uma quantidade razoável de peso (deve ter ido de 83 mais ou menos para 74kg, depois recuperei e fui para 76). Concomitante a essa perda de peso, o volume de treinos foi aumentando, cheguei a um ponto em que não tinha mais vontade de treinar, procurava alguma razão para aquilo. Li um excelente texto do Vagner Bessa sobre um certo limite para o emprego da força de vontade ( disponível aqui http://www.mundotri.com.br/2014/05/pensando-a-bessa-entre-o-desejo-e-a-necessidade-ate-onde-vai-a-forca-de-vontade/ ) e comecei a pensar que poderia ser isso, achei que poderia ser overtraining, achei que poderia ser saco cheio também. Ficava muito ansioso com a chegada do fim de semana e ter de fazer os longos de bike sozinho na estrada (sozinho mesmo, nunca, o estrada movimentada). Resolvi fazer um check up, fui ao médico que pediu alguns exames e foi constatada uma anemia, melhorei a alimentação e suplementação, contando com a ajuda de amigos muito estudiosos que o esporte nos proporciona. Voltei a me sentir bem. Mas esse período quase me fez desistir de ir a Floripa, de abrir mão da prova. Acredito que não seja só comigo essa fase. Eu fiquei bem perto de dar uma bica em tudo. Eu gosto de esporte, não consigo me ver sem praticar, mesmo assim estava estranho. Fui levando e o interessante é que tinha de planejar as coisas, anotar os treinos para passar o feedback, ver o que ia usar, o que poderia estar desgastado na bike. Não fiz nada disso, pegava o que tinha pela frente para pedalar, a camisa ficava lotada de coisas, o carro sempre estava lotado das tralhas de natação, teve uma semana que a roupa de borracha (piscina aqui não é aquecida) ficou morando no carro uns 5 dias.  Fui levando assim achando que poderia melhorar. O último final de semana dos treinos longos foi crucial, um amigo me chamou para pedalar com ele, o César pedala muito forte e eu não queria atrapalhá-lo, mas fui junto, fomos tranquilos para rodar 5 horas na rodovia, saímos muito cedo num frio animal e com vento, na volta puxamos um pouco e consegui acompanhar, o que me deu confiança e mostrou que os treinos deram certo.

Bora para Floripa. Fomos na quarta, eu e Fernanda para encontrar com o César a Aretuza e o Cesinha lá em Jurerê já. Um apartamento muito legal, bem ao lado do open shopping. Foi muito bacana ir junto com a família do César. Fizemos alguns treinos no mar, principalmente para testar minha roupa de borracha que está rasgada embaixo do braço e larga, analisando se iria atrapalhar muito, cogitava comprar ou alugar. Mas deu certo, não atrapalhou tanto. Não consegui fazer uma boa navegação, não enxergava as bóias para voltar para a praia o que me preocupou. Fizemos alguns treinos de corrida e bike também para deixar tudo pronto. Minha bike está do mesmo jeito do IM de 2013, eu achei que conseguiria dar uma melhorada nela, mas não foi possível, apenas consegui alugar 2 rodas zipp 404 para a prova. E comprei alguns cartuchos de CO2 e uma ponteira (coisa que nunca usei). Pedalando por lá, a insegurança aumenta, eu achava que a minha bike estava muito judiadinha, ainda mais comparada às naves espaciais que via por lá. Esse circo todo faz parte e o melhor é desencanar e focar naquilo que é importante.

Foi legal ainda um almoço com a galera Ironguides, onde pude conhecer o pessoal que treina na assessoria. Um pessoal muito bacana, cada um com seus objetivos dentro da prova! Foi legal demais poder conhecer todos. Conversei com o Rodrigo sobre a alimentação na prova e só faltava montar as coisas na bike.

Em casa,  junto com o César calculamos a quantidade de carboidrato que iríamos usar e como distribuir na bike. O professor montou uma planilha no excel para facilitar e ficou show. Como as coisas vão ficando mais simples, impressionante, a bike ficou bem vazia comparado com ano passado. Montamos as sacolas de transição e pronto, estava tudo certinho, só a insegurança e a falta de "clima" continuavam em mim. Comprei uma roupa bacana, que vestiu muito bem e até pensei em ir com ela, mas fiquei com medo e continuei com a velhinha, como estava muito frio, não tinha decidido ainda se ia com um corta vento ou só com o manguito. Deixei para a hora que chegasse na transição essa decisão, como falei antes, não estava decidindo mais nada, deixava acontecer.

A prova

Posso afirmar que o IM 2014 foi, para mim, uma prova estranha e, ao mesmo tempo, legal. Acordei as 4:30 da manhã, tomei um café reforçado, fui ao banheiro e fomos para a largada (eu e Fernanda). Passamos na transição, coloquei as garrafas e a bolsinha, distribuí o que faltava nas sacolas, dei uma conferida rápida em tudo, enchi o pneu (de novo), fui ao banheiro (de novo) e fomos para a área de largada. Eu me sentindo pesado, estranho e caminhando em procissão até o local. Chegando lá mais uma ida ao banheiro (fico nervoso), e desci para me posicionar. Não caí na água antes, eu gosto de fazer um aquecimento, mas chegamos meio em cima da hora e não deu tempo, despedi da Fer e enfrentei uma fila para entrar na área de largada. Posicionei mais à direita como no ano passado, o que se mostrou uma estratégia errada. Tudo pronto, pedi proteção, deixei o cronômetro a postos e quando vi a largada já tinha sido dada. Bom, beleza né, fui para a direita achando que conseguiria sair logo da aglomeração, ilusão, fui preso até na primeira bóia, apanhando, engolindo água, sem conseguir nadar direito, só sobrevivendo. Fiz o contorno e na segunda bóia e consegui nadar melhor, mesmo assim com muita gente perto. Como não conseguia ver direito a praia, fui seguindo a galera que estava bem à direita, cheguei no funil e olhei para o relógio que estava parado. RSRSRS... ok, acionei o cronômetro e fui para a segunda perna da natação, dessa vez estava mais livre, mesmo assim ainda apanhei um pouco e não consegui nadar legal, chegando no contorno para voltar fui seguindo o fluxo, mas em certo momento percebi que a galera que eu acompanhava não estava na direção certinha, corrigi isso e aí sim consegui nadar no ritmo que eu queria. Cheguei na praia com 31 minutos dessa segunda perna, segundo o tempo da organização, o total deu 1:09h, bem acima do que eu pretendia. Achei que tinha nadado mais também e estava relacionando isso aos problemas de navegação, mas um pessoal que nada com gps falou em cerca de 400m a mais, ou seja, foram cerca de 4,2 km de natação.

Fui para a T1 e rapidamente peguei minha sacola, fui trocar e tinha um congestionamento na área de troca, muita gente. Ali decidi que não iria de blusa, coloquei o capacete o óculos o manguito e como estava muito molhado levei a meia para calçar ao lado da bike, a sapatilha já estava presa. Peguei meu sanduichinho de requeijão com azeitonas, coloquei no top e bora pedalar (levei quase 8 minutos para fazer isso, é muito tempo, não dá para gastar tudo isso, preciso melhorar).

Consegui subir certinho na bike e saí para a parte mais longa da prova. Como não fiz uma natação muito boa, tinha muita gente no começo do pedal. Até chegar na rodovia é uma luta para não fazer nada errado e cair ou pegar um buraco e furar pneu. Chegando na rodovia começa direito o pedal. Nessa hora percebi o seguinte meu cateye (o reloginho) da bike não funcionava. Ah não viu, já tinha nadado mal, sem muita referência, agora na bike seria a mesma coisa. Eu treino com a referência na cadência e percepção de esforço, pedalo com a cadencia mais baixa e precisaria do cateye. Mas não dava para choramingar muito, fui fazendo a força que achava que seria suficiente, me alimentando nos períodos certos que seria de 30 / 30 min. Alternava glicodry com gel (carb up black), sempre usando bastante água. Nessa primeira volta sempre tinha gente que eu ultrapassava e encostava na direita para não ficar no caminho de outros. Mas comecei a notar que uma galera ficava aglomerada e continuava aglomerada. Isso não pode, é contra a regra, é usar o vácuo para se beneficiar. Achei que era por ser a primeira volta e que melhoraria. É ruim demais ver isso da forma que foi. Tem momentos que passa um bolo de gente por você e acaba te engolindo. Após o túnel, fiquei com muita vontade de fazer xixi, nunca consegui fazer em cima da bike, dessa forma procurei um banheiro e achei um isolado, ao passar perto dele perguntei pra um pessoal se o tal banheiro estava aberto e com a resposta positiva, desci correndo da bike, encostei e na hora que fui entrar, me aparece um cara do outro lado da pista e entra no banheiro antes de mim. Porra viu, não dava para ir para outro, não tinha e pedalar até outro lugar me pareceu no momento que eu gastaria mais tempo, resolvi esperar e tentar nesse meio tempo arrumar o cateye. O cara estava fazendo o número 2  demorou muito, a minha impressão era de uns 15 minutos, mas claro que não foi tudo isso, mas nesse pit stop devo ter perdido uns 10 minutos no total. Aí fiquei com raiva, bastante raiva. Voltei para pista decidido a não parar mais e pedalar com mais força. O cateye não voltou a funcionar e fui fazendo mais força, com a cadência baixa, sem saber que velocidade que estava. Comia na hora certa, jogava a água que estava sobrando fora, pegava água em alguns pontos só. Nas descidas maiores, fazia xixi em cima da bike mesmo (fiz umas 4 vezes). Entrando em Jurere para completar a primeira volta, fica cheio de gente, muito cheio mesmo, é muito legal a festa que o pessoal faz. É empolgante. Ao mesmo tempo, a estrada fica muito estreita e perigosa, vacilou ali dá colisão frontal até. Nesse momento deu para ver o tanto de gente que estava na minha frente, foi cruel.

Abri a segunda volta e já na primeira subida como o meu sanduba, que coisa boa.  Não sabia o tempo certo da volta por que não sabia onde começava, só conseguia ver pela hora do dia, já que tínhamos largado as 7 da manhã. Estava tudo muito confuso, tive de parar de pensar nisso, gastava uma energia desnecessária. Chegando no centro de Floripa, na avenida beira-mar começou um vento mais forte que ficou pior depois do túnel, achava que só ventava depois do túnel. Não estou acostumado com muito vento então me sinto incomodado. Para voltar comecei a forçar mais o pedal e nos retornos até desanimava do tanto de gente que eu via na minha frente. O César já estava bem na frente, me ultrapassou quando parei para fazer xixi na primeira volta ainda, monstro do pedal. Cheguei novamente a Jurerê, e fui entregar a bike. Bem perto da transição teve um acidente, um atleta caiu e estava sendo socorrido. Tirei o pé da sapatilha, parei a bike e desci com os pé dormentes. Fui até a tenda peguei a sacola, troquei de meia, guardei as tralhas do ciclismo, coloquei o tênis, enchi os bolsos com gel e uma garrafinha de eletrólitos e bcaa e bora correr 42 km. Dessa vez dei split no cronometro e pude marcar o tempo de corrida.

Saí bem tranquilo, com uma cadência alta de passadas. Encontrei com a Fer e falei que estava tudo bem. A avenida búzios fica lotada, é muito bacana, empolga e se vacilar você corre só ali e caminha no resto da prova. Saí junto com um cara de nome Pablo, fomos proseando um pouco até a primeira subida aí dei uma corridinha, andei um pouco e fomos nos afastando, fiquei com medo de seguir o pace dele. Fui me sentindo melhor e no retorno já aumentei o pace e encontrei com uma galera, entre eles o Coach e o César correndo muito bem. Bem no retorno, acho que no km 6 ou antes, encontro com o Julio e conversamos um pouco sobre a natação estar maior, aí chega o Bernardo também e fomos os 3 conversando (obrigado demais aos dois, me carregaram muito tempo). Como eles estavam de gps, perguntei qual era o pace e percebi que era muito forte para mim, mas como o papo estava bom, tentei acompanhar por mais algum tempo para me animar também. Fomos juntos e dando força um para o outro até o km 20 mais ou menos. Passei os 21 km para cerca de 1:48 h (acho que é meu recorde para essa distância). Encontrei com a Fer de novo e pedi para ele pegar uma blusa para mim, que se precisasse, pegaria na outra volta, vislumbrava um aumento do frio. Como estava me sentindo bem, fui aumentando o esforço gradativamente continuando a me sentir bem. O relógio ainda apitava de 30 em 30 minutos e eu tomava um gel ou tomava uns dois copos de pepsi.  Em tempo, quando estava na primeira volta ainda, vi um helicóptero militar pousado e um pessoal do resgate fazendo massagem cardíaca em uma pessoa que já estava entubada e deitada no chão. Foi uma imagem chocante que me acompanhou o tempo todo. Depois fiquei sabendo que era um triatleta que estava acompanhando um pessoal e trabalhando como staff. Uma fatalidade, muito triste.

Continuei no ritmo dos dois durante um certo tempo, depois não aguentei aí comecei a correr sozinho. Alguns retornos encontrava com o pessoal conhecido e sempre dava um "alô', gritava "força", "muito bem" e recebia o mesmo incentivo. É bacana, apesar de estar em uma prova muito cheia, a concentração nos coloca em um estado de solidão que às vezes é quebrado com essas "conversas". Vi o grande Vagner Bessa que sempre dava um alô, o César, o Tosta, o Léo, o Fred, o Rafael, o Marlus, um monte de gente!! O mais engraçado é que eu sou muito curioso e sempre acompanho os grupos de discussão sobre triathlon nas redes sociais, na corrida reconhecia alguém e ficava acompanhando a técnica de corrida, olhando como o pessoal corre fácil.

Voltando à corrida. Na segunda volta que deve dar uns 10 km, comecei a correr sozinho e percebi que continuava com as pernas boas (dentro do possível), cheguei a ultrapassar uns caras que estavam na última volta, achei que estava bem, mas essa galera já devia estar bem cansada também. Completei e falei para a Fer que não ia levar a blusa, acho até que se pegasse poderia dar punição. Passava nos postos e dava até uma andadinha para poder comer e beber. Certo momento queria uma bisnaguinha, peguei um bolo na pressa, mas estava tão bom, até pedi um café na hora até para a moça, rimos muito e deu dor abdominal. Aí lembrei que estava em uma prova. Bora correr, voltei a ficar concentrado e pensei em arriscar, aumentei o ritmo, na verdade, foi a sensação de esforço que eu aumentei, mas acredito que o ritmo também, comecei a ultrapassar muita gente. Em um posto de hidratação onde estava o Homem de Ferro (um cara fantasiado de Homem de Ferro, muito massa) dei uma parada, estava com "dor de lado" bem forte. Tinha um cara lá que me chamou pelo nome, perguntou se precisava de alguma coisa, falou que faltava pouco, me deu a maior força (os staffs dão um show a parte, tomei água, pepsi, sal e fui capengando. Como era a última volta eu olhava as placas e ia apertando o ritmo. Em dois momentos esperei pela quebra, no km 30 (na segunda volta ainda) e no km 36.

No km 36 lembrei do Chewbacca em uma dessas fotos de facebook onde estava a seguinte frase "não existe ateu no km 36 da maratona", dei risada sozinho tive "dor de lado" e voltei para o ritmo. Na estrada, subi o morrinho muito forte e desci mais forte ainda, estava com uma corrida encaixada que só melhorava no momento em que todo mundo estava diminuindo. Nesse momento, comecei a lembrar de uns momentos que mexeram comigo em toda essa trajetória, lembrei do vídeo que uns amigos fizeram para mim, a galera falando dando força, falando sobre os treinos, sobre as vezes em que acordava as 3 da manhã para nadar em outro município. Lembrei dos pedais de 6 horas, solitários, com dor, das vezes em que chorei sozinho achando que não era para mim mais esse esporte, das vezes em que deixei de fazer um monte de coisa por que queria voltar a participar daquele momento que estava vivendo. Lembrei das mensagens que recebi um dia antes, dos bons e maus momentos, que não foi fácil chegar ali. Aí me emocionei, chorei por alguns momentos e o ritmo aumentou ainda mais, era apenas uma rua até chegar na avenida Búzios. Fui forte, olhei para o relógio e vi que poderia fechar a maratona na casa das 3:30 hs, nessa hora que lembrei que estava de óculos, apesar de estar de dia, o tempo estava nublado e sem sol, aí tirei e deu até mais um ânimo. Avistei o primeiro pórtico, agradeci ter chegado ali, mas não diminuí, acho até que apertei, mas achava que fosse mais perto. Ouvi ainda um parabéns da Cris Olivo que nem consegui agradecer, passei com tudo que tinha. Quando entro no funil o corpo fica todo adormecido, estava de dia ainda apesar do tempo ruim, olho para o relógio que marca 10:19 horas, muito abaixo das minhas melhores previsões Fechei a maratona com 3:33 h. Passo sozinho, uma vez que não poderia mais cruzar a linha com acompanhante. Foi uma sensação de alívio, missão cumprida. Uma prova que começou ruim, com uma natação abaixo do que queria, o ciclismo bem travado, sem referências e fechou com uma corrida muito boa para os meus padrões. Talvez ter feito sem muitas informações tenha sido bom, afinal se eu fosse analisar muito a velocidade, o pace, poderia ficar com receio de manter aquele esforço. Mais um aprendizado. Cheguei com muita dor na região das costas, dos músculos rombóides e tive enjoo, fui para a área médica, tomei plasil, um analgésico e soro. Depois consegui comer uns 4-5 pedaços de pizza com coca, o coisa boa!!!! Na área de alimentação encontramos com a galera, foi bacana, pude conversar com todo mundo, eu gosto dessa socialização. Saio, tiro a foto da mizuno e encontro com a Fer que me esperou esse tempo todo. Obrigado Fernanda, sem você não seria a mesma coisa.

Acho que já ficou muito longo, mas para terminar vou colocar algumas observações:

- a minha prova foi estranha no começo. Não estava no clima que queria, o que não quer dizer que não estava treinado. Novamente o Rodrigo Tosta com a metodologia Ironguides acertou nos treinos e eu cheguei muito bem em Florianópolis. Eu sempre sou muito cauteloso para colocar metas, prefiro ser conservador. Queria chegar de dia, calculei cerca de 10:45 horas de prova. Como o tempo estava muito fechado, acabou que foi escurecendo mais cedo e mesmo assim fechei com 10:19, muito melhor do que pensei;

- o circo do IM ao mesmo tempo em que é legal, é perigoso. Facilmente você se desvia do objetivo principal de estar lá, para outras ações, como as consumistas;

- alguns treinos são cruciais. Sofri muito mais nos treinos que na prova, não que não tenha sofrido na prova, ali sempre tem alguém perto, não fica aquela solidão dos treinos . Essa é uma máxima que para mim se provou verdadeira (talvez não tenha feito toda a força necessária na prova também, pode ser isso);

- apesar de superar até mesmo as minhas expectativas, olhando com um olhar mais técnico e o tempo que perdi e o que não saiu dentro do planejado, fico muito perto das 10 horas e buscar um tempo sub - 10 parece plausível. Não gosto mesmo de colocar essas metas, mas parece ser um foco diferente para uma próxima prova. Não sei ainda se vou me inscrever para 2015 (tentar né!), é muito caro, faço tudo sem apoio e o custo fica muito alto, não apenas a inscrição. A vontade é grande, ainda mais por ter feito uma boa prova, mas por enquanto não sei;

- tudo vai se tornando mais simples. Ano passado fiquei maluco com a logística, com a transição, com a alimentação. Dessa vez a sensação era de que estava faltando muita coisa e na verdade não estava. Até sobrou gel. Usei bastante a alimentação da prova, principalmente na corrida;

- acho que não cabem 2000 atletas na prova nesse formato de largada única. Fica muito legal na foto, é bacana chegar com o tempo no placar exato, mas acho que tem ficado perigoso e ruim. Na parte da bike, algumas vias são muito estreitas, principalmente quando se sai da rodovia, acaba que concentra muita gente e o famigerado vácuo se torna muito comum;

- com amigos tudo fica mais fácil. Preciso agradecer ao Zaneli que me emprestou, forneceu, doou, vendeu o óculos de natação que usei na prova, muito obrigado cara. Agradecer ao Digão que me emprestou sua roupa de borracha (que não serviu e rezo todo dia para que eu não a tenha esticado) e seu capacete aero, muitíssimo obrigado mesmo, levo de volta essa semana. Ao Rodolfo, meu irmão, que me emprestou sua mala bike, obrigado demais. Ao César que foi parceiro nessa jornada, obrigado cara por todas as dicas e incentivo. Ao Chicão que me alugou duas rodas bacanas, muito obrigado também;

- a prova em Floripa é muito bonita, pedalar por toda a cidade é uma das coisas mais fantásticas que já tive a oportunidade de fazer. Quando a gente entra na avenida Búzios é fantástico, eu me sentia em algum palco protagonizando um show;
- treinar corretamente faz toda a diferença. Eu não matei treino, se for ver minhas parciais de treino, não são fortes, eu estava sempre cansado e na prova deu tudo certo;

- o triathlon é viciante, eu me divirto e não consigo entender a agressividade de certos atletas com os staffs e com alguns companheiros;

- alguns atletas precisam de mais cuidado para pedalar, saber que existem certas regras e buscar adquirir algumas habilidades antes de entrar em uma prova. Eu mesmo tenho pouca habilidade, mas tento aprimorar as coisas mais básicas;

- devia ter levado o celular com GPS para jogar no strava e colocar uma musiquinha;

- preciso treinar mais natação com muitos educativos;

- não sou bom para sintetizar o assunto.

Foi assim. Estou ainda digerindo tudo, pensando que poderia ter sido ainda melhor. Uma neurose besta. Acredito que o melhor agora é buscar descansar o corpo, mas principalmente a cabeça.

Obrigado de coração a todos que mandaram mensagens, que ligaram que curtiram que acompanharam. É muito bom, mas muito bom mesmo ver o pessoal torcendo por nós. Obrigado à Aretuza e Cesinha pelo amizade nessa semana em Floripa, foi muito l

egal mesmo

Obrigado aos amigos, à família, e principalmente à Fernanda que me acompanha nessas maluquices.

Qual o próximo desafio??? Pagar as contas, brincadeira, esse é um desafio diário e não vou contabilizar aqui. Inscrições dia 05/06 do Ironman Brasil Florianópolis 2015, será????  Tenho 4 dias ainda para achar alguém que me presenteie com a inscrição.

Tempo da prova:
Natação: 1:09:47.
T1: 7:53
Bike: 5:23:25
T2: 5:19
Corrida: 3:33:15

Tempo total de 10:19:44 horas.


Abraços a todos.

sábado, 1 de junho de 2013

Dou you believe in miracles? - A saga do Ironman Brasil 2013


Vou começar explicando o título do post. Eu sou um apaixonado por esporte desde que me entendo por gente. Tive alguns períodos em que não praticava nada o que me fez ganhar muito peso, mas sempre voltava, treinava, encarava o que vinha pela frente, as risadas, o escárnio, o desdém, etc e voltava, principalmente a jogar vôlei e tênis. Tinha um amigo irmão que me estimulava muito, que infelizmente faleceu há 3 anos de acidente, o Mauro Vovô, um cara mais novo que eu que me ensinou várias coisas. Meu interesse pelo vôlei se foi. 

Precisava encontrar algo que me tirasse do marasmo. Encontrei a corrida (a qual nunca fui muito fã). Comecei a nadar também, no início não completava 4 voltas na piscina de 25 m sem parar. Só que se querem que eu faça algo é só me provocar dizendo que não vou conseguir.... bom, já dei uma fugida do assunto.

O filme, á o filme. O título representa uma frase do filme Desafio no Gelo (Miracle) de 2004, o qual conta a história do time de hóquei no gelo dos USA, nas olimpíadas de inverno de 1980, ápice da guerra fria. As olimpíadas seriam em solo americano e os USA não ganhavam da URSS há algum tempo, mesmo com os profissionais da NHL. Para piorar, colocaram universitários para jogar as olimpíadas, temendo um enfraquecimento da liga profissional deles. Não vou falar sobre tudo, mas é muito bom de se ver. Eu adoro histórias reais, principalmente quando o esporte está envolvido, alguns exemplos: Estrada para a Glória, Duelo de Titãs, We're Marshals, entre outros. Mas por que "do you believe in miracles?", porque foi uma parte no final do jogo contra a URSS onde, muito bem feito, a edição mesclou a filmagem com a transmissão da TV no dia http://www.youtube.com/watch?v=Kp-j6GJJgJ8 . A transmissão oficial está aqui http://www.youtube.com/watch?v=qYscemhnf88 .

Essa frase vêm à minha cabeça a todo momento em que estou passando por dificuldades. Não sei por que! Ela me acompanhou desde a largada, até a chegada do Ironman: "Dou you believe in miracles?"..... particularmente, naquele momento, o milagre foi construído. Quem sabe disso? Quem acompanhou tudo o que passei....

Nunca fui um atleta de ponta, mas nunca fui um atleta ruim, sempre cumpri com minhas funções de forma correta, honesta. Não que não gostasse de treinar nem nada, mas tinha uma vida paralela (social, profissional) que eu não conseguia conciliar direito. Sempre havia problemas. Ninguém queria entender, muito menos eu.

Mas, em abril de 2011, resolvi fazer um short triathlon (comprei uma bike road de entrada) e fui. Quase morri na natação com aquele tanto de gente. Completei e me apaixonei. Daquele momento em diante, treinar passou a fazer parte da minha rotina. Faltava treinar outros aspectos como alimentação, vida social, etc.

Há aproximadamente 1 ano atrás, fiz minha inscrição no Ironman (IM), meio na empolgação, só para ver se conseguiria. Não tinha lastro para tanto, o máximo que fiz, fora um long distance Pirassununga (depois fiz outro). Eu pensava o seguinte: bom, é o primeiro, eu não tenho família, filhos, posso me dedicar mais. Não pensei em desempenho nem nada, queria ir para conhecer e passear. A vida (profissional, etc) me permitia dedicação aos treinos naquele momento.

Até agora, falei muito de minha história e estou fugindo da prova em si....

Chegamos (eu e Fernanda, minha namorada), em Floripa na terça a noite, eu estava de férias, queria ir antes. Fui de carro, viagem cruel, passamos em Curitiba para deixar uma amiga e nos perdemos lá em decorrência de 1 saída que estava fechada. Resultado, mais de 12 horas de viagem. O caos para entrar em Floripa, mas chegamos. O deslumbramento é inevitável, Jurerê é fantástica, tudo muito bonito.

Ok, chegamos, colocamos os badulaques todos para fora. Fomos comer e já tinha gente para participar do IM. Reconhece-se facilmente pela blusa, tênis, boné, etc.
Na quarta continuei meus treinos com 1 hora de giro de bike, só vendo os lugares bacanas.

Aqui cabe um parêntese. Tive um problema pessoal muito forte, que quase me fez ir embora e abrir mão de tudo.

Na quinta, peguei o kit e teve treino de reconhecimento na natação. Ali encontrei com algumas pessoas conhecidas como o Dalton Cabral, o Dr. Fábio Russomano, o Eduardo Giovanetti, e conheci outros. Como sou novo no pedaço, ainda me sinto meio fora da tribo, mas não ligo. 

Nunca tinha nadado no mar e saí na muvuca para ver como era, não me senti mal em momento algum e nadei solto, muito tranquilo. Conversei com outros atletas sobre onde sair, onde ir, referências, etc. Foi bom para ganhar confiança.




Na sexta, perdi o congresso técnico de manhã, tinha combinado, na parte da tarde, com o Rodrigo da Ironguides (meu coach) de ir na palestra no Mark Allen (6 x campeão mundial de IM), em um hotel tão chique, mas tão chique, que fiquei com vergonha de entrar. Lá encontrei com a Aline, conheci o Cordella, vi o Rodrigo Roehnis (não quis incomodá-lo com mais perguntas, rs), vi um monte de triatleta profissional, o Rodrigo da Tri Sport, o Tony, entre outras pessoas feras. Foi sensacional, ouvir uma lenda do esporte, ele te contar o que sentia a cada momento da prova foi enriquecedor demais. Ganhei vários brindes, dentre eles, um relógio Timex show de bola. Mas fiquei cansado, não falo bem inglês, entendo legal, mas preciso prestar muita atenção, a cabeça fritou. Encontrei com a namorada e fomos na feirinha para esperar o jantar de massas. Não aguentei, saímos e fomos comer em outro lugar, por sinal o macarrão mais caro que já ingeri!

No sábado, teria o café da manhã com o Mark Allen para fechar as palestras e eu iria terminar de mostrar minha estratégia de prova ao Rodrigo. Foi muito bom, comi muito e dei preju lá.



Tracei a estratégia com o Rodrigo e umas coisas que ele me disse ficaram na cabeça: divirta-se (divertir nessa distância toda, tem jeito???), esquece o relógio para ver tempo de prova (pô, bem agora que tenho um relógio novinho), não teste nada diferente na alimentação (quero gastar na prova caramba, paguei ué), não empolgue na avenida búzios (empolgar? Eu vou arrastar...), e mais um monte de coisas que não precisa falar aqui. Me disse que estava preparado, era visível (eu parecia um zumbi). Conversei com quem eu pude e filtrei o que me poderia ser útil. Obrigado Aline pela colaboração na estratégia de alimentação e a barrinha que gruda para sempre nos dentes.

Tudo estava pronto, a questão final era, eu estava pronto? Apesar dos meses de treinos, na mudança na alimentação, na transformação do corpo (passei de 95 kg para 78 em cerca de 1 ano) o psicológico te prega peças jogando os problemas que eu estava vivendo a todo momento na minha cabeça. Nesse aspecto, mesmo com tudo isso, eu tenho algo em mim que talvez seja boa, eu vou lá e enfrento, não tenho receio, mesmo que pare no meio do caminho e peça para chamar minha mãe!

As dúvidas do que iria acontecer, misturada com as mensagens que recebi de um monte de gente, me fez escrever um desabafo (ou melhor tirar o meu da reta) no Facebook: "Aos amigos: não importa o que aconteça amanhã, o caminho percorrido para estar aqui foi extremamente enriquecedor para minha vida! Em todos os aspectos! Sendo aqui ou com os Solomans (que estão fazendo história), o objetivo é a diversão! Com seriedade, é claro.... entre altos e baixos, erros e acertos, vou largar amanhã com a certeza que minha vida já mudou há algum tempo, para melhor! Obrigado a todos que me ajudam diariamente, com um conselho, uma palavra! Especialmente Fernanda Borges que aguentou toda a jornada comigo! Um viva ao triathlon de longa distância. ... ao esporte de endurance! Farei de tudo para conseguir atravessar a chegada. .. quem quiser acompanhar ironmanlive.com meu número 631! Rezem por mim... rs... 

Percebe-se pelo que escrevi que estava com receio de não terminar a prova. Já tive de desistir uma vez e o sentimento é o pior que existe, não queria sentir aquilo de novo.

Dormi pensando na palavra "dosar", o tempo todo, não deixar doer (muito) os locais mais críticos. Digo isso, uma vez que passei 2 semanas com dor na lombar, no ombro, no joelho...... sei lá se era ansiedade, mas a farmácia nunca vendeu tanto salompas na vida. Ninguém queria ficar perto de mim por causa do cheiro.

Tudo arrumado, vamos para a transição. Relógio despertou as 4:00 am de domingo, eu levantei antes, as 3:50.

Tomei um cafezão, as gororobas para colocar na bike já estavam prontas. Ruim era carregar tudo aquilo.

A Prova

Chegando no transição, arrumei e olhei tudo de novo. A estratégia de deixar a sapatilha sobre a bike e colocá-la antes de sair para o percurso, foi por água abaixo, tive de clipar a sapatilha no pedal e colocar elástiquinho para facilitar. Como ia pedalar de meia, ia correr até a bike.

Fui para a praia com a Fer, agora sim já com roupa de borracha e tomando gororoba (accelerade com xtend) e água. Uma coisa que não comentei é que com essa hidratação constante nos últimos dias, eu fazia xixi de 15 em 15 minutos. Chegamos na largada, já lotada. Ia dar um mergulho mesmo estando escuro, aquecer. Fui lá e aproveitei para fazer um xixizinho. Umas 6:30 eu fui para o curralzinho da largada. Agora não tinha mais jeito.
Me posicionei à direita no meio da muvuca, onde 90% das pessoas fica, kkkk! Legal lá que tá todo mundo nervoso, aí rola um papo mais descontraído, tem uns que nem olham para o lado, mas a maioria dá risada. Conheci o Deco, que era o mais pilhado e depois vi que fez um provão.

O nascer do sol, com os helicópteros voando por lá, antes do toque da corneta é um momento mágico. Aproveitei para fazer uma oração, para pedir que nada de ruim acontecesse a ninguém, que todo mundo voltasse inteiro dessa jornada. Nesse momento me arrepiei.
Toca a buzina, todos saem feito loucos, mas alguns andam...eu já me posicionei para o lado direito e fui.... até a primeira bóia, muita pancadaria, mas eu não esquentava muito, em alguns momentos fazia mais força, outros controlava. O impressionante disso tudo, é que tinha muito medo dessa embate na água!

Fiz a primeira volta em 35 minutos mais ou menos (se largamos as 7, meu relógio marcava 7:35)... rs. Único parâmetro de tempo que eu tinha. Na bike joguei o relógio no modo regressivo de 30 em 30 minutos.

Lavei a boca na corridinha na areia e volto para segunda volta. Fiz pela direita também, o que talvez tenha me feito nadar um pouco mais (ou muito mais). Depois da 2 bóia, na hora de voltar, pensei que para ir rto e não pegar tanta correnteza teria de ir para o outro lado, lá fui eu atravessar a muvuca e me posicionar na esquerda agora. Deu certo, saí certinho no deck para o P12. Lá é uma loucura, galera ajudando a tirar a roupa de borracha.... que beleza! Tirei e fui para a T1, aí me perdi. As transições do IM são diferentes, mesmo tudo mentalizado, já fui procurar o número 530, o meu era 631. Aí fiquei doido, rsrsrsr! Uma barata tonta. Achei, troquei, coloquei meia e fui correndo até a bike (longe pacas). Novamente perdi ia para lá e para cá até a menina falar que meu número era 631.... porra, que mania desse 530. Achei e saí para pedalar, subi na bike rapidinho a saí devagar. Aí, comecei a ficar impressionado. Dos 2 lados da rua, lotado de gente assistindo, me senti um esportista de alto nível. Consegui calçar as sapatilhas certinho e já me preparava para fazer força. Só que até certo ponto, é muito difícil ultrapassar, muito estreito. Mas fui.
A estratégia era pegar água da prova para poder diluir minha mistura de accelerade com xtend, mais nada! Só que as garrafinhas que eles davam, não estavam fechadas adequadamente, voava água para todo lado, menos dentro do aerodrink. Ou seja, todo posto, diminuía para pegar água, o que fazia a média cair. Lá depois dos túneis, tive de parar para ir ao banheiro, muita vontade. Aconteceu mais 2 vezes isso, depois acho que normalizou. Preciso aprender a fazer xixi na bike, um bloqueio que tenho ainda....
Pedalei abaixo do que podia, uma vez que ia correr 42 km depois, sim, 42 km.... isso dava um nó na cabeça! Vi pelotes formados, principalmente quando cruzava com os primeiros colocados. Em alguns lugares, não tinha pelote, por que não tinha espaço, não dava nem para respeitar os 10m, era tão estreito que mal dava para não atropelar o cone.
Minha bike estava com a caixa de direção meio sem encaixe, o que dava uma sensação nas descidas e retornos que o guidão iria ceder, como já caí assim uma vez, controlava muito isso, descia muito cuidadoso. Errei algumas coisas, como pegar água e derrubar o que me fazia esperar mais um tempo para poder hidratar direito.
Chegar em Jurere era uma festa, difícil não empolgar, mas como não estava muito confiante com a bike tinha medo dos paralepípedos.
Continuei e depois do túnel na segunda volta, o vento estava animal...meu Deus, como o Rafael Pina falou "controle-se nessa parte". Eu pensava toda hora nas dicas do pessoal. E aumentava o giro. Aproveitava para alimentar.

Na última volta, chegando em Jurere já, tinha um retorno com mais um voltinha, po, achei que estava chegando na T2 já.

Depois entramos em Jurere, muita gente já correndo (estou acostumado com isso). Fiz a transição quase certinha, na hora de entregar a bike para o staff, quase caí...kkklk... ok, dessa vez acertei tudo e diminuí quase 3 minutos na transição. Truquei a meia e parti para corrida. Saí alucinado, mas não com meu tempo (que eu nem sabia direito, apenas o da bike, mas como tinha parado, ele também o tinha) e sim com as ruas. Meu Deus, como estava cheio, galera torcendo, gritando. Que vibe.

Fui tranquilo sempre pensando no controle. quando meu relógio apitava, era hora do lanche, andava no posto de hidratação e me alimentava, foi assim o tempo todo, na hora que não descia mais gel, ou estava muito ruim, mandava pepsi e tomava o xtend também. A subida de Canas é cruel, eu normalmente subiria correndo, gosto de subidas, mas lembrei que tinha muita prova ainda e subi andando. No caminho muita gente dando força, fazendo festa, números escritos no chão, faixas, eu fiquei impressionado. Não acreditava que estava no meio daquela festa.

Via gente conhecida, cumprimentava, falava no mínimo um "vamos", "tá bem". Quando entramos novamente em Jurere, pego minha pulseira e volto para as voltas. Pensava, ok, já falta menos, vamos lá. Por incrível que pareça as dores não me incomodavam, estavam lá, mas não ligava. O joelho direito jogava um pouco de água gelada nele de vez em quando.
Parei na special needs para reabastecer meus géis e garrafinha com xtend. Me enrolei lá, demorei uns 5 minutos para sair. Mas beleza, mais uma volta. Passo na av. Búzios a Fer me pergunta 275 vezes em questão de 15 segundo se eu estava bem, rs, respondi que sim, que estava tranquilo. Para não se preocupar. Encontro o Rodrigo Tosta, que me diz pra continuar daquele jeito que eu estava muito bem. Não ligava para tempo, mas na minha cabeça 12 horas era um tempo que eu gostaria de fazer. Sendo assim, passei 2 vezes de frente ao painel, na primeira vi que seria possível 12 horas, quando dei a volta e faltava 10km, olhei de novo e vi que era MUITO possível. Só não podia empolgar para não quebrar no finalzinho. Só que foi ao contrário, no km 30, lembrei do povo falando que todo mundo quebra, etc. Eu não, parece que me deu mais força, passei muita gente, corria fácil, comecei atá a apertar mais o passo. Corria como nunca corri. Ainda parei em alguns postos para comer e beber coca. Até comecei a rir quando me ofereceram sopa. Dei risada com o staff, falei "pô, to tão mal assim??? Sopa???", racharam o bico comigo lá! Isso é impagável....

Entrei na av Búzio de novo, agora para chegar, estava claro ainda (eu pensei "será que vou chegar de dia?"), mas aos poucos foi anoitecendo, quando faltam uns 500m um brother fala para mim é um cara do lado "força galera que vai sair um sub 11". Sub 11??? Caraca, ele não quis dizer 12??? E a frase do título vinha a minha mente toda hora "Dou you believe in miracles?" , lembrei da natação no frio, água gelada pacaraio, pedal com dor, festas de família ou de amigos que não fui, das amizades que enfraqueceram, do meu amigo que morreu....um resumo de minha vida em 500m. Pensava também "caramba, vou terminar uma maratona, nunca corri 42 km, caramba, uma maratona, que loucura, nunca consegui correr muito...." mas não era uma maratona normal, era a maratona do Ironman. Nisso aparece o Rodrigo Tosta e me fala, da um sprint que vai sair dentro das 11 horas.... quase falei p ele alongar a chegada que eu ainda aguentava. Corri muito forte no final, encontrei a Fernanda que teve de ir no meu pique e passamos a linha de chegada com 11:00:45 (oficial foi 11:00:59), eu não me emocionei tanto, era muita adrenalina do sprint, rs, só não acreditava que tinha terminado.

O Rodrigo me disse que ficaria satisfeito  se chegasse e falasse para ele que sobrou energia.... olha, sobrou viu, naquele ritmo, corria mais algum tempo! Em contrapartida, lembrei do texto do Bessa, onde ele dizia respeitar a prova seria não dar tudo? E o arrependimento depois? É verdade viu, mais um pouquinho, seria sub 11.... totalmente possível naquele momento! E se desse errado, eu saberia lidar com as consequências? Andar, ter câimbras, etc. Acho que é aí onde está o ponto do auto conhecimento onde você tem capacidade de avaliar se é possível forçar ou não.

Fui tomar soro só para não ficar mal depois, mas estava, impressionantemente, inteiro.

Depois li as mensagens no FB da galera acompanhando, etc...aí sim me emocionei... que orgulho ter pessoas torcendo por mim. Nossa, que orgulho.

Por fim, depois desse livro, só tenho a agradecer a todos. Principalmente Fer que me acompanha a dá força para continuar sempre. Ao Rodrigo Tosta que soube muito bem me conduzir, sem exageros e sem "mimimi"...rs! A todos os amigos que ao menos pensaram em mim naquele domingo, com certeza essa energia chegou até mim e me fez concluir a prova. 

Aos amigos triatletas que me deram dicas sensacionais, sem as quais não sei o que seria. 

OBRIGADO DE CORAÇÃO.....

E não é que eu consegui fazer uma maratona..... ops, um IRONMAN!!!!


Do you believe in miracles??? I do.....



terça-feira, 15 de janeiro de 2013

2012 se foi....


Impressões sobre 2012
Interessante, todo final de ano dá vontade de falar e/ou escrever sobre o ano que passou. Agora não é diferente, quer dizer, talvez seja, uma vez que já estou no dia 15 de janeiro de 2013 (protelei como sempre e o tempo passou muito rápido). Vamos aos acontecimentos que acho relevantes e mereçam uma atenção maior, me serve até mesmo para refletir e tentar corrigir o que não deu certo ou que não tenha sido realizado a contento.

Tenho um problema com datas, talvez não saia em uma sequência cronológica exata, mas vou tentar.
Como todo ano a gente faz promessas, traça metas e espera que o ano seja melhor que o anterior. Comigo não é diferente. Esperava muito de 2012, sempre coloco que no próximo ano vou realizar tudo que deixei de fazer e gostaria de ter feito.

Trabalho:
Acredito que 2012 tenha sido a consolidação de vários projetos que estava ansioso por ver prontos. O Centro Odontológico ficou maravilhoso, claro que não poderia de citar a Engenheira Úrsula e o Arquiteto Bruno os quais me aguentaram todo tempo, o ex Prefeito Dr. Akira que vislumbrou a possibilidade e o atual Prefeito Dito Cunha que abraçou o projeto e ainda permitiu a compra de tudo novo, ou seja, ficou de primeira categoria, melhor que muita clínica particular.
Participamos de todos os editais que consegui achar e fomos contemplados com a maioria deles. Se fizermos uma série histórica de alguns anos atrás, fica visível o crescimento no número de convênios com Estado e União que o município fez. As parcerias no setor da saúde são essenciais, principalmente por que o município aplica muito acima do que a EC 29 determina e os outros entes não. Apesar dos processos serem muito burocráticos e demorarem, é muito bom ver um projeto tomar forma.

Apesar de tudo isso, foi um ano cansativo também, principalmente no que tange ao aspecto mental. A maioria dos profissionais de nível superior que trabalham na saúde pública tem como segundo emprego esse serviço, em resumo, é apenas um complemento de renda, uma forma de se ter uma renda formal. No meu caso é diferente, eu abracei a saúde pública como meu trabalho e nem consultório particular tenho mais. Especializei-me (acho que até demais) na área e faço jornada integral (sou concursado para 2 cargos de 4 horas diárias). Algumas das responsabilidades “burocráticas” da Secretaria de Saúde acabaram ficando comigo, além da presidência do Conselho Municipal de Saúde. Então, juntou tudo isso, fazendo minha cabeça não parar de pensar nem um minuto sequer. Pós-graduação, instrumentos de gestão, prestação de contas, metas, editais, projetos, atas do Conselho, reuniões, pactuações que não davam certo, consultórios e equipamentos estragando (sim, até isso aprendi a consertar, mais ou menos), entre outras responsabilidades. Queria ver tudo funcionando como deve, mas para isso dependemos de outros funcionários, alguns muito bons e outros que não estão nem aí. Dessa forma fui desanimando até chegar ao ponto de querer pedir para voltar ao atendimento. Fui demovido dessa ideia e aceitei continuar, quero ver funcionar corretamente, mas agora dentro dos meus limites, vi que não é possível, dentro de uma estrutura tão grande, fazer certas coisas sozinho. Li em algum lugar que a gente entra em “burnout” e eu estava (ou ainda estou?) nesse ponto.

Uma coisa interessante que aconteceu, foi fazer o concurso em Varginha, sem ter estudado nada, nem a Lei Orgânica do Município eu li, mesmo assim fiquei em 10º lugar de mais de 200 candidatos, já chamaram 8, ou seja no momento estou em 2º. Isso renova as forças. No fim do ano, ainda fui fazer um vestibular para Administração Pública na UFLA, passei também. Tudo bem, podem falar que é EAD (Educação a Distância), mas acertei bastante nas questões de português e conhecimentos gerais que abrange história, geografia, etc. A exceção foi matemática que foi triste. Fiquei em 12º de uns 150 candidatos. Mas a dúvida persiste, fazer o curso ou não? A decisão vai ser no limite.

Esporte:
Acho que o ano de 2012 foi um ano de consolidação como atleta de triathlon. Ainda tenho muito o que evoluir, estou aprendendo ainda. O legal é que quando jogava tênis ou vôlei, odiava fazer treinos de corrida. Hoje faz parte da minha vida. A meta de 2011 era fazer um meio iron, como consegui fazer Pirassununga, relaxei depois. Cheguei aos 96 kg, mas já perdi bastante e a meta é perder mais.

Tive uma frustração que não sabia que doía tanto, não terminar uma prova, o GP Extreme em São Carlos. Como São Carlos em 2011 foi meu primeiro triathlon (na distância short), adorei o lugar e fui o primeiro a me inscrever para 2012, assim a organização me deu a inscrição para o short no dia anterior, em resumo, 1 prova short distance no sábado a tarde (750m natação / 20 km bike / 5 km corrida) e outra no domingo de manhã (1 km natação / 100 km bike / 10 km corrida). Falei que não ia fazer muita força na prova de sábado, mas não dá, terminei me sentido bem. Mas dormi mal demais, acho que engoli muita água na natação. Domingo de manhã lá estava eu de novo (roupa molhada ainda). Nadei, fui pedalar (essa prova chama Extreme devido aos morros insanos), estava cansado e sem estratégia bem formulada de alimentação. O pneu traseiro fura na parte mais baixa da prova, não acreditava, uns 10 km dali tinha uma oficina shimano, fui até lá com pneu murcho, eles me emprestaram uma roda, troquei e fui embora, na outra volta fura o da frente no mesmo lugar (isso que o asfalto é o melhor que tem), enchi e fui enchendo até chegar na oficina novamente, já tinha rodado mais de 70 km, só que subi muito morro com pneu murcho o que foi me demolindo tanto física como mentalmente, nesse momento desisti da prova. Isso me doeu tanto que nem dormi de domingo para segunda. Foi um aprendizado que doeu bastante.

Fiz outras provas, como o Circuito Trilogia em BH, juntamente com um traning camp da Ironguides, com o Rodrigo Tosta, que hoje me assessora. Aprendi a treinar, vi que a gente precisa fazer escolhas, vi que temos limites, mas o principal foi ver que podemos chegar bem longe se fizermos tudo corretamente. Nessa pilha, cometi uma loucura e me inscrevi no Ironman Brasil 2013 (3,8 km natação / 180 km bike / 42 km corrida), que vai acontecer em maio. Estou treinando para não fazer feio.

Fui também a Pirassununga, com o intuito de melhorar meu tempo de 2011. Com muita chuva, consegui 15 minutos de melhora, que poderiam ser bem mais se não fosse um problema na transição e a estratégia de corrida (que tinha 1 km a mais também). O tempo da bike, nos 90 km me surpreendeu, com uma melhora de 30 minutos do ano anterior. Ainda teve Brotas para fechar o ano com chave de ouro (na foto abaixo, a chegada). O triathlon na distância olímpica (1,5 km natação / 40 km bike / 10 km corrida) mais difícil do Brasil, certeza. Só na natação que não tinha morro. De resto nada era plano.
Acredito que tenha crescido como esportista, percebi que faz parte da minha vida e é um meio de expurgar os “demônios”.

Vida pessoal:
Como é “pessoal”, vou comentar sobre alguns aspectos que são mais "públicos" só.
Mesmo com a cabeça cheia, acabei cedendo aos pedidos de uns amigos e me candidatei a vereador. Pensei assim: a gente reclama muito, como recusar uma oportunidade de ajudar? Deixei meu nome à disposição, mas já tinha avisado que não era meu perfil ficar indo de casa em casa, prometendo coisas que sabia que não iam acontecer e não tinha recursos financeiros para gastar. Minha campanha baseou-se no facebook, no boca a boca, em uma carta que fiz expressando minhas intenções e no auxílio dos amigos. No final obtive 214 votos e gastei uns R$ 100, foi quase. Mas hoje, refletindo sobre isso tudo, acho que não daria certo e o estresse aumentaria em proporções geométricas. Foi muito feio o que aconteceu aqui, a campanha para vereador acaba baseada em mentiras, compra de votos, assistencialismo, cartas desqualificando os candidatos mais fortes, boca de urna, etc. Minha consciência está tranquila quanto a isso. Deixo claro também que não foram todos candidatos que utilizaram dessas artimanhas. Assistindo a um filme esses dias, lembrei direitinho dessa época, o filme chama “The Campaign”, “Os Candidatos” no Brasil. No começo do filme, aparece uma frase interessante “A guerra e o vale tudo na lama tem regras... a política não tem regras”, Ross Perot, candidato à presidência 1988.

Todo final de ano tenho uma sensação ruim, uma sensação de não estar indo para frente, de estagnação, dá uma ansiedade e angústia chatas. Como moro em SGS mesmo, os amigos, a família, vem tudo para cá. Assim a agenda festiva fica cheia, como é temporário e eles logo vão embora, sobram poucos. O psicológico dá um nó! Mas passa tão logo os dias vão se seguindo. Preciso aprender a conviver melhor com isso, fico chato (mais), desanimado certos momentos, animado demais em outros, uma bipolaridade incomum para mim.

2013
Espero que 2013 seja um ano bom, com as expectativas alcançadas e a serenidade de volta. Tenho algumas metas como treinar corretamente (inclui alimentação), buscar melhor qualificação profissional, pagar as dívidas (todo ano ela está presente), ler mais, melhorar na carreira e terminar o Ironman. Outras metas, pessoais, guardo para mim.

Acho que o que eu quero mais que tudo mesmo é ser mais sereno e enfrentar as situações com mais calma. Cansei de ficar com a cabeça cheia de problemas que às vezes nem merecem estar ali.

Que venha 2013 com suas particularidades e surpresas. Como gosto do número 13, acredito que terei um ano agradável. Torço por isso e farei por onde também, não quero nada de graça, apesar que, ganhar na mega sena seria uma boa. Taí, outra meta, jogar mais na mega sena.
É isso....que todos tenham um ano abençoado e também ganhem na mega sena. 

Abraços
Guto

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Outro Significado de Vencer / Pirassununga 2012


Esses dias em um devaneio que postei no facebook, questionei como “vencer” no esporte pode ter outros significados. Eu, que venho desde a infância, praticando esportes mais objetivos, onde se você faz mais pontos, vence, ainda me sinto meio deslocado e despreparado para tratar de um assunto tão complexo. Mas vivencio isso em minha cabeça nas provas do esporte que, agora, aos 34 anos (com cara de 25 e corpo de 67), resolvi praticar. Mas deixando de lado essa parte filosófica, vou fazer um race report sobre Pirassununga 2012, o X Terra Long Distance.

Como de costume, fomos eu e minha fiel escudeira Fernanda para Pira na sexta ainda. Como não tinha vaga em Pira, ficamos em Leme. Hotelzinho mais ou menos, mas com uma pizzaria muito boa na frente. Leme é uma cidade agradável. Fomos correr na sexta no parque, mas estava fechado, mesmo assim, corremos 30 minutos só para soltar os cambitos. Claro que me perdia toda hora, mas me achava também!

No sábado, tomamos café, demos uma enrolada e fomos na AFA pegar o kit. Quase comprei um pneu, uma vez que tinha comprado 1 (achando que vinham 2) e minha bike estava com pneu bom atrás e ruim na frente. Mas.... muito caro! Espero mais um pouco! Havia combinado com o Wlad de encontrarmos para almoçar e fazermos uma visita ao abrigo da cidade de Pirassununga (uma ideia do Wlad que foi aceita por vários amigos do grupo Ironbrothers: fazer uma doação a uma instituição da cidade em que faríamos a prova, deu muito certo, foram arrecadados mais de mil reais além de roupas. PARABÉNS WLAD E AMIGOS QUE AJUDARAM) . Claro que me perdi e demorei um pouquinho para achar o restaurante, mas consegui chegar lá. Que encontro mais legal. Estava o Wlad, o Fábio Russomano, o Dalton Cabral e sua esposa Karina, depois ainda chegou o Ulisses e sua namorada Erika. Papo muito bom. Eu que sou um iniciante e não conhecia ninguém, já comecei com os feras. A chuva começou ali e não parou mais até o fim da prova. Papo muito bom, ideias fantásticas e depois fomos ao abrigo onde chegou o Fernando Quirino e sua esposa Karolyne. Conversamos um pouco com as crianças e com as pessoas que tomam conta da instituição e vimos o tanto que ainda temos de evoluir como sociedade. O Estado precisa chegar até essas crianças adolescentes, o terceiro setor não está dando conta! Mas isso fica para outro momento. A iniciativa foi sensacional.

Como disse choveu a noite inteira. Levantei bem cedo, coloquei a bike no carro e fomos para Pira. Quando fui montar a bike, esqueci o canudinho que prolonga o aerodrink, que beleza. Mas vai assim mesmo. Chuvinha fina, mesmo assim posicionei a bike na transição com as sapatilhas já clipadas e com elástico para ficarem na posição. Ia fazer descalço e correr descalço também, já havia decidido. O tênis deixei preparado dentro de um saco plástico.
 


Fomos para natação, já havia notado a dificuldade de tirar a speedsuit na minha cidade, mas achei que era por eu mesmo fechar o zíper e prender em algo que não via lá! A Fernanda fechou para mim e fiz o teste de abrir e fechar umas 5 x, 2 deram certo, isso ficou na minha cabeça, mas fazer o que, tomara que o sexto teste (já na prova) de certo também. Na largada o Célio queria que todo mundo saísse debaixo do pórtico, impossível, mais de 600 pessoas, não ia dar certo. Me posicionei mais a direita e larguei, na muvuca mesmo, fiquei mais do lado direito e fui sem forçar muito, nadei um pouco mais, mas fiquei mais livre. Na primeira volta, saí bem da água, não lembro o tempo, algum lazarento apertou meu relógio e ele foi para o alarme, hehehe. Segunda volta mais tranquila, as vezes forçava, as vezes focava mais na técnica. Saí da água oficialmente com 33:26 min, mais de 3 min mais rápido que ano passado, apesar da Fernanda me falar que tinha saído com 31 (estava mais orgulhoso, RS). Mas não fiz tanta força e quase caí para sair da água, ou seja pode ser um 32 alto. 


Saí da água e primeira coisa que fui fazer foi tentar tirar a speedsuit, não saia, tirei óculos e touca e fiquei ao lado da bike tentando tirar a roupa, com o resultado da bike somado ao da T1, acredito que tenha demorado uns 8 minutos ou mais até conseguir. Quase fui pedalar de speedsuit. Mas finalmente consegui, o pessoal que tava ali perto até riu e falou “ufa, até que enfim”.

Saí com a bike e fui montar, deu certo o pé direito, o esquerdo deu uma falha, raspou a sapatilha no chão, mas consegui sair rápido e depois a calcei certinho. Melhorei nisso.


A estratégia de alimentação estava muito bem montada pelo Rodrigo Tosta, fui seguindo a risca. O que eu não espera era o pedal fluir tão bem, mesmo com chuva, sem óculos, tava com média sempre acima de 35 - 38 km/h e passando muita gente (o que ano passado era o contrário, muita gente me passando). Fui tentando fazer um pedal progressivo, a cada volta dava split no cateye e a média realmente estava melhor. Um local me chamou a atenção, o Ulisses falou sobre ele, ano passado, pegava velocidade absurda, dessa vez tinha que pedalar para manter 33-35, não sei o local exato. Mas faltando uns 10 km, tinha uma moto ao meu lado e um monte de gente na frente o que estava me impedindo de ultrapassar, freei um pouco, peguei um buraco e perdi as ferramentas, vieram me avisar, mas falei que se furasse ali, ia na roda o resto do caminho. Nesse meio tempo o Wlad me alcançou, como já estava muito perto, esse bolo chegou na transição junto, deu até fila, RS! Olhei meu cateye e tinha dado 2:33h, quase 30 min mais rápido que ano passado. Oficialmente foi 2:42h, ou seja, as transições me deram um bom tempo a mais. Tentei fazer a T2 rápida, mas esqueci a garrafinha de gel e umas cápsulas de sal, voltei, peguei e saí para correr.



Aqui começa o martírio. Até o km 8 mais ou menos, estava conseguindo segurar cerca de 5 min/km de pace, o que para mim é muito bom e estava pensando em fazer uma segunda volta mais forte. Mas descobri que não era... comecei a me sentir pesado, alimentava, tomava a pastilha e ainda assim estava mal. Pernas pesadas, mãos dormentes, dor de cabeça... comecei a aliviar e muita gente me passou. Quando cheguei com a bike e vi meu tempo, vislumbrei a possibilidade de fazer um tempo bem próximo de 5 horas, se corresse tudo maravilhosamente bem, quem sabe, sub 5 (ok não era o momento de pensar nisso, não para mim). Mas a segunda volta foi triste, o psicológico começou a bater feio também além do físico. Como é interessante, quando me distraía, corria bem, quando estava sozinho, começava o sofrimento. Mas fui assim até o final. A lama do canavial me fez escorregar umas 10 x e fazia doer a coluna, RS! Mais essa para aguentar. O fato é que apesar de ter pulado de 96 kg para 86, ainda estou pesado e com musculatura fraca. Estava com incômodo na sola do pé esquerdo e na panturrilha direita (a qual foi com o salompas até o fim, eta coisinha boa, mas cara), mas nem pensava nisso,  a quebra foi feia, achei em um momento psicológico ruim, que fosse ter um AVC no máximo ou uma síncope, no mínimo, só estava pensando em coisa boa, RSRS. No fim, oficialmente fechei em 2:07:10 h, totalizando 5:22:48 h, 15 minutos mais rápido que meu tempo ano passado.


Fiquei triste da corrida não ter encaixado (disseram 1 km a mais que ano passado), se eu repito meus piores tempos em meias maratonas e mesmo o de Pira ano passado, teria sido muito bom. Mas no fim, estou feliz de ter feito uma natação não muito forte para 33 e um pedal que não sabia que tinha capacidade. Se eu apertei muito no pedal e faltou para a corrida? Pode ser, mas fui na percepção do que estava sentindo e como me sentia bem, fiz o pedal até um pouco com menos força do que poderia. Faltou a corrida, sei que ainda estou pesado, mas isso é comigo e meu esforço e não serve como desculpa. Resumindo: fiquei feliz, feliz de encontrar pessoas tão legais, de receber mensagens tão legais, de poder competir em uma prova tão disputada e boa, mesmo naquelas condições. Se meu conceito de vencer continua o mesmo? Não, vencer para mim passa a ter outro significado, ou outros, cada dia descubro um novo e essa prova me ensinou vários.
Gostaria de agradecer também, porque me considero um vencedor. Agradeço a todos que me aguentam no período de treinos, aos amigos que acabo nem encontrando mais (peço até desculpas), agradeço aos novos amigos, em especial ao Wlad que encabeçou uma atitude de auxílio ao próximo em um mundo cheio de egos inflados. Isso faz a diferença. Agradeço ao Coach Rodrigo Tosta que fez um excelente trabalho, me mostrando como treinar, como alimentar direito, entre outras dicas, tenho certeza que vou evoluir sempre. Está dando certo. Agradeço a minha família que ainda não está adaptada ao mundo do triathlon, mas tenho certeza que quando virem irão adorar. E meu agradecimento especial a minha companheira, namorada, fiel escudeira, diretora técnica da assessoria, entre outros cargos, Fernanda, por sua paciência, seu apoio e serenidade.

Para mim foi muito importante encontrar e conversar com o pessoal, por que aí sim você consegue ver como a galera se dedica e segue alimentação correta, treinos corretos, recuperação correta. Falta isso ainda para mim.... mas para um cara que 2 anos atrás utilizava a corrida apenas para aquecer para jogar outra coisa e ainda não gostava, acho que estou evoluindo.



Abraços e até a próxima, e que seja logo.


Guto