Iroman Brasil 2014 - Race Report
Ficou muito
longo, fui escrevendo do jeito que as ideias foram aparecendo. Para saber
diretamente da prova, só ir um pouquinho para baixo direto. O resto é "mimimi"
para não perder o costume.
O triathlon é um
esporte viciante, não tenho dúvida disso, ao mesmo tempo é um esporte cruel
para o organismo e para o bolso.
A saga para o
Ironman 2014 começou logo após o de 2013. Apesar de todo gasto e algumas
decepções, não aguentei e me inscrevi para o próximo ano, a ideia era ter uma
prova alvo e aproveitar tudo isso para treinar e consolidar alguns hábitos em
minha vida. A guerra para inscrição foi vencida com um cartão internacional
emprestado, não consegui pelo boleto. Estava inscrito, agora era conversar com
o Coach Rodrigo Tosta e ver o que iria sair para maio de 2014. Pensei em manter
o blog atualizado, para que pudesse ter um histórico das sensações, desesperos,
etc. E continuar alimentando meu diário de treinos para ter uma base de
comparação. Não fiz nada disso. Acho que fui muito relaxado quanto a isso. Nos
treinos longos e em outros durante a semana, usava o gps que está com a
pulseira arrebentada ou o celular para colocar no strava depois. Mas ao mesmo
tempo, fui bem "CDF" com os treinos, pouquíssimos foram perdidos. O
legal, ou mais ou menos legal é que minha rotina foi se ajustando a de um
atleta, dormir cedo, comer bem, não exagerar em comemorações e festas foram regra,
deixei de fazer muitas coisas, não só por causa dos treinos (acho que os
treinos foram a melhor desculpa) mas para buscar um caminho mais saudável e
tranquilo para mim.
Apesar da
experiência do primeiro IM, nunca me senti confiante o bastante para relaxar
muito ou perder treinos, apesar de tomar cerveja, comer pizza de vez em quando.
Minha alimentação melhorou muito, mesmo assim eu não consegui acertar a
quantidade correta dentro das necessidades que eu tinha. No fim do período de
treinos quase que isso prejudica.
Desde que
comecei a correr sinto um incômodo na coluna lombar que varia de intensidade
dependendo da quantidade e intensidade dos treinos. A região dos músculos
rombóides, do lado direito também incomodaram (e incomodam) muito. Achava que
essas dores poderiam ter relação com o peso, estar pesado poderia prejudicar a
estabilização do meu tronco e provocar essas dores. Fui ao médico que confirmou
a presença de um desgaste a região das vértebras lombares (esqueci de citar a
dor na região dos rombóides), me receitou um remédio e boa. Melhorou um tempo,
mas voltou e fui fazer fisioterapia e
buscar melhores informações. Mesmo assim convivi e convivo com essas dores,
variando de intensidade dependendo da atividade que faço. Quando estou
pedalando na estrada, tem horas que dá vontade de parar, sentar no chão e pegar
o primeiro ônibus que passar.
Ah, então,
achava que era o peso e comecei a me monitorar mais, resultado foi que perdi
uma quantidade razoável de peso (deve ter ido de 83 mais ou menos para 74kg,
depois recuperei e fui para 76). Concomitante a essa perda de peso, o volume de
treinos foi aumentando, cheguei a um ponto em que não tinha mais vontade de
treinar, procurava alguma razão para aquilo. Li um excelente texto do Vagner
Bessa sobre um certo limite para o emprego da força de vontade ( disponível
aqui http://www.mundotri.com.br/2014/05/pensando-a-bessa-entre-o-desejo-e-a-necessidade-ate-onde-vai-a-forca-de-vontade/
) e comecei a pensar que poderia ser isso, achei que poderia ser overtraining,
achei que poderia ser saco cheio também. Ficava muito ansioso com a chegada do
fim de semana e ter de fazer os longos de bike sozinho na estrada (sozinho
mesmo, nunca, o estrada movimentada). Resolvi fazer um check up, fui ao médico
que pediu alguns exames e foi constatada uma anemia, melhorei a alimentação e
suplementação, contando com a ajuda de amigos muito estudiosos que o esporte
nos proporciona. Voltei a me sentir bem. Mas esse período quase me fez desistir
de ir a Floripa, de abrir mão da prova. Acredito que não seja só comigo essa
fase. Eu fiquei bem perto de dar uma bica em tudo. Eu gosto de esporte, não
consigo me ver sem praticar, mesmo assim estava estranho. Fui levando e o
interessante é que tinha de planejar as coisas, anotar os treinos para passar o
feedback, ver o que ia usar, o que poderia estar desgastado na bike. Não fiz
nada disso, pegava o que tinha pela frente para pedalar, a camisa ficava lotada
de coisas, o carro sempre estava lotado das tralhas de natação, teve uma semana
que a roupa de borracha (piscina aqui não é aquecida) ficou morando no carro
uns 5 dias. Fui levando assim achando
que poderia melhorar. O último final de semana dos treinos longos foi crucial,
um amigo me chamou para pedalar com ele, o César pedala muito forte e eu não
queria atrapalhá-lo, mas fui junto, fomos tranquilos para rodar 5 horas na
rodovia, saímos muito cedo num frio animal e com vento, na volta puxamos um
pouco e consegui acompanhar, o que me deu confiança e mostrou que os treinos
deram certo.
Bora para
Floripa. Fomos na quarta, eu e Fernanda para encontrar com o César a Aretuza e
o Cesinha lá em Jurerê já. Um apartamento muito legal, bem ao lado do open
shopping. Foi muito bacana ir junto com a família do César. Fizemos alguns
treinos no mar, principalmente para testar minha roupa de borracha que está
rasgada embaixo do braço e larga, analisando se iria atrapalhar muito, cogitava
comprar ou alugar. Mas deu certo, não atrapalhou tanto. Não consegui fazer uma
boa navegação, não enxergava as bóias para voltar para a praia o que me
preocupou. Fizemos alguns treinos de corrida e bike também para deixar tudo
pronto. Minha bike está do mesmo jeito do IM de 2013, eu achei que conseguiria
dar uma melhorada nela, mas não foi possível, apenas consegui alugar 2 rodas
zipp 404 para a prova. E comprei alguns cartuchos de CO2 e uma ponteira (coisa
que nunca usei). Pedalando por lá, a insegurança aumenta, eu achava que a minha
bike estava muito judiadinha, ainda mais comparada às naves espaciais que via
por lá. Esse circo todo faz parte e o melhor é desencanar e focar naquilo que é
importante.
Foi legal ainda
um almoço com a galera Ironguides, onde pude conhecer o pessoal que treina na
assessoria. Um pessoal muito bacana, cada um com seus objetivos dentro da
prova! Foi legal demais poder conhecer todos. Conversei com o Rodrigo sobre a
alimentação na prova e só faltava montar as coisas na bike.
Em casa, junto com o César calculamos a quantidade de
carboidrato que iríamos usar e como distribuir na bike. O professor montou uma
planilha no excel para facilitar e ficou show. Como as coisas vão ficando mais
simples, impressionante, a bike ficou bem vazia comparado com ano passado.
Montamos as sacolas de transição e pronto, estava tudo certinho, só a
insegurança e a falta de "clima" continuavam em mim. Comprei uma
roupa bacana, que vestiu muito bem e até pensei em ir com ela, mas fiquei com
medo e continuei com a velhinha, como estava muito frio, não tinha decidido
ainda se ia com um corta vento ou só com o manguito. Deixei para a hora que
chegasse na transição essa decisão, como falei antes, não estava decidindo mais
nada, deixava acontecer.
A prova
Posso afirmar
que o IM 2014 foi, para mim, uma prova estranha e, ao mesmo tempo, legal.
Acordei as 4:30 da manhã, tomei um café reforçado, fui ao banheiro e fomos para
a largada (eu e Fernanda). Passamos na transição, coloquei as garrafas e a
bolsinha, distribuí o que faltava nas sacolas, dei uma conferida rápida em
tudo, enchi o pneu (de novo), fui ao banheiro (de novo) e fomos para a área de
largada. Eu me sentindo pesado, estranho e caminhando em procissão até o local.
Chegando lá mais uma ida ao banheiro (fico nervoso), e desci para me
posicionar. Não caí na água antes, eu gosto de fazer um aquecimento, mas
chegamos meio em cima da hora e não deu tempo, despedi da Fer e enfrentei uma
fila para entrar na área de largada. Posicionei mais à direita como no ano
passado, o que se mostrou uma estratégia errada. Tudo pronto, pedi proteção,
deixei o cronômetro a postos e quando vi a largada já tinha sido dada. Bom,
beleza né, fui para a direita achando que conseguiria sair logo da aglomeração,
ilusão, fui preso até na primeira bóia, apanhando, engolindo água, sem
conseguir nadar direito, só sobrevivendo. Fiz o contorno e na segunda bóia e
consegui nadar melhor, mesmo assim com muita gente perto. Como não conseguia
ver direito a praia, fui seguindo a galera que estava bem à direita, cheguei no
funil e olhei para o relógio que estava parado. RSRSRS... ok, acionei o
cronômetro e fui para a segunda perna da natação, dessa vez estava mais livre,
mesmo assim ainda apanhei um pouco e não consegui nadar legal, chegando no
contorno para voltar fui seguindo o fluxo, mas em certo momento percebi que a
galera que eu acompanhava não estava na direção certinha, corrigi isso e aí sim
consegui nadar no ritmo que eu queria. Cheguei na praia com 31 minutos dessa
segunda perna, segundo o tempo da organização, o total deu 1:09h, bem acima do
que eu pretendia. Achei que tinha nadado mais também e estava relacionando isso
aos problemas de navegação, mas um pessoal que nada com gps falou em cerca de
400m a mais, ou seja, foram cerca de 4,2 km de natação.
Fui para a T1 e
rapidamente peguei minha sacola, fui trocar e tinha um congestionamento na área
de troca, muita gente. Ali decidi que não iria de blusa, coloquei o capacete o
óculos o manguito e como estava muito molhado levei a meia para calçar ao lado
da bike, a sapatilha já estava presa. Peguei meu sanduichinho de requeijão com azeitonas,
coloquei no top e bora pedalar (levei quase 8 minutos para fazer isso, é muito
tempo, não dá para gastar tudo isso, preciso melhorar).
Consegui subir
certinho na bike e saí para a parte mais longa da prova. Como não fiz uma
natação muito boa, tinha muita gente no começo do pedal. Até chegar na rodovia
é uma luta para não fazer nada errado e cair ou pegar um buraco e furar pneu.
Chegando na rodovia começa direito o pedal. Nessa hora percebi o seguinte meu
cateye (o reloginho) da bike não funcionava. Ah não viu, já tinha nadado mal,
sem muita referência, agora na bike seria a mesma coisa. Eu treino com a
referência na cadência e percepção de esforço, pedalo com a cadencia mais baixa
e precisaria do cateye. Mas não dava para choramingar muito, fui fazendo a
força que achava que seria suficiente, me alimentando nos períodos certos que
seria de 30 / 30 min. Alternava glicodry com gel (carb up black), sempre usando
bastante água. Nessa primeira volta sempre tinha gente que eu ultrapassava e
encostava na direita para não ficar no caminho de outros. Mas comecei a notar
que uma galera ficava aglomerada e continuava aglomerada. Isso não pode, é
contra a regra, é usar o vácuo para se beneficiar. Achei que era por ser a
primeira volta e que melhoraria. É ruim demais ver isso da forma que foi. Tem
momentos que passa um bolo de gente por você e acaba te engolindo. Após o
túnel, fiquei com muita vontade de fazer xixi, nunca consegui fazer em cima da
bike, dessa forma procurei um banheiro e achei um isolado, ao passar perto dele
perguntei pra um pessoal se o tal banheiro estava aberto e com a resposta
positiva, desci correndo da bike, encostei e na hora que fui entrar, me aparece
um cara do outro lado da pista e entra no banheiro antes de mim. Porra viu, não
dava para ir para outro, não tinha e pedalar até outro lugar me pareceu no
momento que eu gastaria mais tempo, resolvi esperar e tentar nesse meio tempo
arrumar o cateye. O cara estava fazendo o número 2 demorou muito, a minha impressão era de uns
15 minutos, mas claro que não foi tudo isso, mas nesse pit stop devo ter
perdido uns 10 minutos no total. Aí fiquei com raiva, bastante raiva. Voltei
para pista decidido a não parar mais e pedalar com mais força. O cateye não
voltou a funcionar e fui fazendo mais força, com a cadência baixa, sem saber
que velocidade que estava. Comia na hora certa, jogava a água que estava
sobrando fora, pegava água em alguns pontos só. Nas descidas maiores, fazia
xixi em cima da bike mesmo (fiz umas 4 vezes). Entrando em Jurere para
completar a primeira volta, fica cheio de gente, muito cheio mesmo, é muito
legal a festa que o pessoal faz. É empolgante. Ao mesmo tempo, a estrada fica
muito estreita e perigosa, vacilou ali dá colisão frontal até. Nesse momento
deu para ver o tanto de gente que estava na minha frente, foi cruel.
Abri a segunda
volta e já na primeira subida como o meu sanduba, que coisa boa. Não sabia o tempo certo da volta por que não
sabia onde começava, só conseguia ver pela hora do dia, já que tínhamos largado
as 7 da manhã. Estava tudo muito confuso, tive de parar de pensar nisso,
gastava uma energia desnecessária. Chegando no centro de Floripa, na avenida
beira-mar começou um vento mais forte que ficou pior depois do túnel, achava
que só ventava depois do túnel. Não estou acostumado com muito vento então me
sinto incomodado. Para voltar comecei a forçar mais o pedal e nos retornos até
desanimava do tanto de gente que eu via na minha frente. O César já estava bem
na frente, me ultrapassou quando parei para fazer xixi na primeira volta ainda,
monstro do pedal. Cheguei novamente a Jurerê, e fui entregar a bike. Bem perto
da transição teve um acidente, um atleta caiu e estava sendo socorrido. Tirei o
pé da sapatilha, parei a bike e desci com os pé dormentes. Fui até a tenda
peguei a sacola, troquei de meia, guardei as tralhas do ciclismo, coloquei o
tênis, enchi os bolsos com gel e uma garrafinha de eletrólitos e bcaa e bora
correr 42 km. Dessa vez dei split no cronometro e pude marcar o tempo de
corrida.
Saí bem
tranquilo, com uma cadência alta de passadas. Encontrei com a Fer e falei que
estava tudo bem. A avenida búzios fica lotada, é muito bacana, empolga e se
vacilar você corre só ali e caminha no resto da prova. Saí junto com um cara de
nome Pablo, fomos proseando um pouco até a primeira subida aí dei uma
corridinha, andei um pouco e fomos nos afastando, fiquei com medo de seguir o
pace dele. Fui me sentindo melhor e no retorno já aumentei o pace e encontrei
com uma galera, entre eles o Coach e o César correndo muito bem. Bem no
retorno, acho que no km 6 ou antes, encontro com o Julio e conversamos um pouco
sobre a natação estar maior, aí chega o Bernardo também e fomos os 3
conversando (obrigado demais aos dois, me carregaram muito tempo). Como eles
estavam de gps, perguntei qual era o pace e percebi que era muito forte para
mim, mas como o papo estava bom, tentei acompanhar por mais algum tempo para me
animar também. Fomos juntos e dando força um para o outro até o km 20 mais ou
menos. Passei os 21 km para cerca de 1:48 h (acho que é meu recorde para essa
distância). Encontrei com a Fer de novo e pedi para ele pegar uma blusa para
mim, que se precisasse, pegaria na outra volta, vislumbrava um aumento do frio.
Como estava me sentindo bem, fui aumentando o esforço gradativamente
continuando a me sentir bem. O relógio ainda apitava de 30 em 30 minutos e eu
tomava um gel ou tomava uns dois copos de pepsi. Em tempo, quando estava na primeira volta
ainda, vi um helicóptero militar pousado e um pessoal do resgate fazendo
massagem cardíaca em uma pessoa que já estava entubada e deitada no chão. Foi
uma imagem chocante que me acompanhou o tempo todo. Depois fiquei sabendo que
era um triatleta que estava acompanhando um pessoal e trabalhando como staff.
Uma fatalidade, muito triste.
Continuei no
ritmo dos dois durante um certo tempo, depois não aguentei aí comecei a correr
sozinho. Alguns retornos encontrava com o pessoal conhecido e sempre dava um
"alô', gritava "força", "muito bem" e recebia o mesmo
incentivo. É bacana, apesar de estar em uma prova muito cheia, a concentração
nos coloca em um estado de solidão que às vezes é quebrado com essas
"conversas". Vi o grande Vagner Bessa que sempre dava um alô, o
César, o Tosta, o Léo, o Fred, o Rafael, o Marlus, um monte de gente!! O mais
engraçado é que eu sou muito curioso e sempre acompanho os grupos de discussão
sobre triathlon nas redes sociais, na corrida reconhecia alguém e ficava acompanhando
a técnica de corrida, olhando como o pessoal corre fácil.
Voltando à
corrida. Na segunda volta que deve dar uns 10 km, comecei a correr sozinho e
percebi que continuava com as pernas boas (dentro do possível), cheguei a
ultrapassar uns caras que estavam na última volta, achei que estava bem, mas
essa galera já devia estar bem cansada também. Completei e falei para a Fer que
não ia levar a blusa, acho até que se pegasse poderia dar punição. Passava nos
postos e dava até uma andadinha para poder comer e beber. Certo momento queria
uma bisnaguinha, peguei um bolo na pressa, mas estava tão bom, até pedi um café
na hora até para a moça, rimos muito e deu dor abdominal. Aí lembrei que estava
em uma prova. Bora correr, voltei a ficar concentrado e pensei em arriscar,
aumentei o ritmo, na verdade, foi a sensação de esforço que eu aumentei, mas
acredito que o ritmo também, comecei a ultrapassar muita gente. Em um posto de
hidratação onde estava o Homem de Ferro (um cara fantasiado de Homem de Ferro,
muito massa) dei uma parada, estava com "dor de lado" bem forte.
Tinha um cara lá que me chamou pelo nome, perguntou se precisava de alguma
coisa, falou que faltava pouco, me deu a maior força (os staffs dão um show a parte,
tomei água, pepsi, sal e fui capengando. Como era a última volta eu olhava as
placas e ia apertando o ritmo. Em dois momentos esperei pela quebra, no km 30
(na segunda volta ainda) e no km 36.
No km 36 lembrei
do Chewbacca em uma dessas fotos de facebook onde estava a seguinte frase
"não existe ateu no km 36 da maratona", dei risada sozinho tive
"dor de lado" e voltei para o ritmo. Na estrada, subi o morrinho
muito forte e desci mais forte ainda, estava com uma corrida encaixada que só
melhorava no momento em que todo mundo estava diminuindo. Nesse momento, comecei
a lembrar de uns momentos que mexeram comigo em toda essa trajetória, lembrei
do vídeo que uns amigos fizeram para mim, a galera falando dando força, falando
sobre os treinos, sobre as vezes em que acordava as 3 da manhã para nadar em
outro município. Lembrei dos pedais de 6 horas, solitários, com dor, das vezes
em que chorei sozinho achando que não era para mim mais esse esporte, das vezes
em que deixei de fazer um monte de coisa por que queria voltar a participar
daquele momento que estava vivendo. Lembrei das mensagens que recebi um dia antes,
dos bons e maus momentos, que não foi fácil chegar ali. Aí me emocionei, chorei
por alguns momentos e o ritmo aumentou ainda mais, era apenas uma rua até
chegar na avenida Búzios. Fui forte, olhei para o relógio e vi que poderia
fechar a maratona na casa das 3:30 hs, nessa hora que lembrei que estava de
óculos, apesar de estar de dia, o tempo estava nublado e sem sol, aí tirei e
deu até mais um ânimo. Avistei o primeiro pórtico, agradeci ter chegado ali,
mas não diminuí, acho até que apertei, mas achava que fosse mais perto. Ouvi
ainda um parabéns da Cris Olivo que nem consegui agradecer, passei com tudo que
tinha. Quando entro no funil o corpo fica todo adormecido, estava de dia ainda
apesar do tempo ruim, olho para o relógio que marca 10:19 horas, muito abaixo das
minhas melhores previsões Fechei a maratona com 3:33 h. Passo sozinho, uma vez
que não poderia mais cruzar a linha com acompanhante. Foi uma sensação de
alívio, missão cumprida. Uma prova que começou ruim, com uma natação abaixo do
que queria, o ciclismo bem travado, sem referências e fechou com uma corrida
muito boa para os meus padrões. Talvez ter feito sem muitas informações tenha
sido bom, afinal se eu fosse analisar muito a velocidade, o pace, poderia ficar
com receio de manter aquele esforço. Mais um aprendizado. Cheguei com muita dor
na região das costas, dos músculos rombóides e tive enjoo, fui para a área
médica, tomei plasil, um analgésico e soro. Depois consegui comer uns 4-5
pedaços de pizza com coca, o coisa boa!!!! Na área de alimentação encontramos
com a galera, foi bacana, pude conversar com todo mundo, eu gosto dessa
socialização. Saio, tiro a foto da mizuno e encontro com a Fer que me esperou
esse tempo todo. Obrigado Fernanda, sem você não seria a mesma coisa.
Acho que já
ficou muito longo, mas para terminar vou colocar algumas observações:
- a minha prova
foi estranha no começo. Não estava no clima que queria, o que não quer dizer
que não estava treinado. Novamente o Rodrigo Tosta com a metodologia Ironguides
acertou nos treinos e eu cheguei muito bem em Florianópolis. Eu sempre sou
muito cauteloso para colocar metas, prefiro ser conservador. Queria chegar de
dia, calculei cerca de 10:45 horas de prova. Como o tempo estava muito fechado,
acabou que foi escurecendo mais cedo e mesmo assim fechei com 10:19, muito
melhor do que pensei;
- o circo do IM
ao mesmo tempo em que é legal, é perigoso. Facilmente você se desvia do
objetivo principal de estar lá, para outras ações, como as consumistas;
- alguns treinos
são cruciais. Sofri muito mais nos treinos que na prova, não que não tenha
sofrido na prova, ali sempre tem alguém perto, não fica aquela solidão dos
treinos . Essa é uma máxima que para mim se provou verdadeira (talvez não tenha
feito toda a força necessária na prova também, pode ser isso);
- apesar de
superar até mesmo as minhas expectativas, olhando com um olhar mais técnico e o
tempo que perdi e o que não saiu dentro do planejado, fico muito perto das 10
horas e buscar um tempo sub - 10 parece plausível. Não gosto mesmo de colocar
essas metas, mas parece ser um foco diferente para uma próxima prova. Não sei
ainda se vou me inscrever para 2015 (tentar né!), é muito caro, faço tudo sem apoio
e o custo fica muito alto, não apenas a inscrição. A vontade é grande, ainda
mais por ter feito uma boa prova, mas por enquanto não sei;
- tudo vai se
tornando mais simples. Ano passado fiquei maluco com a logística, com a
transição, com a alimentação. Dessa vez a sensação era de que estava faltando
muita coisa e na verdade não estava. Até sobrou gel. Usei bastante a
alimentação da prova, principalmente na corrida;
- acho que não
cabem 2000 atletas na prova nesse formato de largada única. Fica muito legal na
foto, é bacana chegar com o tempo no placar exato, mas acho que tem ficado
perigoso e ruim. Na parte da bike, algumas vias são muito estreitas,
principalmente quando se sai da rodovia, acaba que concentra muita gente e o
famigerado vácuo se torna muito comum;
- com amigos
tudo fica mais fácil. Preciso agradecer ao Zaneli que me emprestou, forneceu,
doou, vendeu o óculos de natação que usei na prova, muito obrigado cara. Agradecer
ao Digão que me emprestou sua roupa de borracha (que não serviu e rezo todo dia
para que eu não a tenha esticado) e seu capacete aero, muitíssimo obrigado
mesmo, levo de volta essa semana. Ao Rodolfo, meu irmão, que me emprestou sua mala bike, obrigado demais. Ao
César que foi parceiro nessa jornada, obrigado cara por todas as dicas e
incentivo. Ao Chicão que me alugou duas rodas bacanas, muito obrigado também;
- a prova em
Floripa é muito bonita, pedalar por toda a cidade é uma das coisas mais
fantásticas que já tive a oportunidade de fazer. Quando a gente entra na
avenida Búzios é fantástico, eu me sentia em algum palco protagonizando um show;
- treinar
corretamente faz toda a diferença. Eu não matei treino, se for ver minhas
parciais de treino, não são fortes, eu estava sempre cansado e na prova deu tudo
certo;
- o triathlon é
viciante, eu me divirto e não consigo entender a agressividade de certos
atletas com os staffs e com alguns companheiros;
- alguns atletas
precisam de mais cuidado para pedalar, saber que existem certas regras e buscar
adquirir algumas habilidades antes de entrar em uma prova. Eu mesmo tenho pouca
habilidade, mas tento aprimorar as coisas mais básicas;
- devia ter
levado o celular com GPS para jogar no strava e colocar uma musiquinha;
- preciso
treinar mais natação com muitos educativos;
- não sou bom
para sintetizar o assunto.
Foi assim. Estou
ainda digerindo tudo, pensando que poderia ter sido ainda melhor. Uma neurose besta.
Acredito que o melhor agora é buscar descansar o corpo, mas principalmente a
cabeça.
Obrigado de
coração a todos que mandaram mensagens, que ligaram que curtiram que acompanharam.
É muito bom, mas muito bom mesmo ver o pessoal torcendo por nós. Obrigado à Aretuza e Cesinha pelo amizade nessa semana em Floripa, foi muito l
egal mesmo
Obrigado aos
amigos, à família, e principalmente à Fernanda que me acompanha nessas
maluquices.
Qual o próximo
desafio??? Pagar as contas, brincadeira, esse é um desafio diário e não vou
contabilizar aqui. Inscrições dia 05/06 do Ironman Brasil Florianópolis 2015,
será???? Tenho 4 dias ainda para achar
alguém que me presenteie com a inscrição.
Tempo da prova:
Natação:
1:09:47.
T1: 7:53
Bike: 5:23:25
T2: 5:19
Corrida: 3:33:15
Tempo total de
10:19:44 horas.
Abraços a todos.